Reflexões sobre a utilização das tecnologias digitais na educação em tempos de confinamento

Em momento de isolamento social e de necessidade de trabalho remoto dos professores, várias angústias emergem, dentre elas a necessidade de manter o vínculo com os estudantes, apesar do distanciamento geográfico. As diferentes estratégias de ensino com auxílio das tecnologias digitais surgem como possibilidades para essa aproximação, e até mesmo, em alguns discursos presentifica-se como a “solução” para esse período em que todos (as) necessitam ficar em casa. No entanto, precisamos ter cautela diante desse discurso, pois é reconhecido que vivenciamos realidades familiares distintas, e os profissionais da educação carecem de formação, estrutura adequada e apoio para a realização de ações em atividades orientadas a distância. Diante disso, entendemos a urgência da construção de redes de escuta e/ou conversação, no intuito de compartilhar boas ideias e experiências entre professores (as).
Como forma de provocação, citamos a fala de uma estudante dos Anos Iniciais, quando diz: “eu sei fazer as atividades, mas não estou aprendendo”. Em uma análise preliminar, poderíamos avaliar que a fala da estudante apresenta um equívoco, pois no momento em que ela cumpre e executa as tarefas corretamente, estaria, teoricamente, aprendendo determinado conteúdo programático. Pensemos que a estudante nos fornece a primeira evidência para a problematização em questão: encaminhar tarefas aos estudantes promove diretamente a aprendizagem? Considera-se que, para a realização dessas tarefas, o estudante acionará algumas funções mentais, como a memorização, o pensamento e a linguagem, por exemplo.
A partir dessa assertiva, questionamos também: mesmo exercitando as funções mentais, essa aprendizagem não estaria comprometida pela dificuldade/ausência de socialização? Parece-nos relevante considerar que essa criança, que está em casa e interage com seus familiares, que possuem idade e maturidade diferentes do seu momento de vida, acaba por encontrar obstáculos para a construção do conhecimento, justamente, pela ausência de seu coletivo, de sua turma. Sabemos que individualmente, principalmente como adultos (as), construímos conhecimentos nas diversas áreas, mas é importante assinalar a falsa ideia de individualidade, pois por mais que estejamos sós, estamos em rede com os nossos (as) autores (as), as nossas referências. Mesmo geograficamente sozinhos (as), estamos socializando e partilhando com nossos (as) autores (as).
Posto isso, cabe o questionamento: uma prática em EaD deveria levar em consideração essas premissas, ou seja, não ser uma prática tarefeira, mas um exercício entre indivíduos diferentes, separados geograficamente? A EaD seria, então, um espaço/tempo em que a aprendizagem se efetiva e estabelece, a partir da realidade destes (as) e com a possibilidade de socialização, colaboração e partilha entre os (as) sujeitos envolvidos (as)?
Apontamos aqui um caminho pelo uso das diferentes tecnologias digitais como blogs, videoaulas, aplicativos, ambientes virtuais de aprendizagem, entre outros e, indagamos: como estas poderiam estar alinhadas ao contexto educacional atual? A ideia de constituir a rede de professores (as) e gestores (as) é, justamente, o momento da criação de um espaço mediado pela tecnologia, no qual todos (as) possam ofertar caminhos de como engendrar as tecnologias digitais como potencializadoras da educação e da construção de conhecimentos em seus diferentes níveis. Uma socialização de ideias para a problematização em questão.
 Uma das ideias pujantes dentre muitas que surgiram na rede é a necessidade de que façamos um mapeamento sobre a realidade tanto dos (as) professores (as) como dos estudantes, para que não se adotem formas únicas de lidar com os diferentes. Assim, será organizado um formulário, questionário, via ferramenta google com esse fim. O mapeamento, por um lado, tem por objetivo conhecer a familiarização e experiência dos (das)  professores (as) com a tecnologia, bem como investigar a disponibilidade e as formas de acesso às tecnologias digitais por parte dos (as) estudantes.
Outro ponto a ser discutido diz respeito à saúde emocional dos diferentes indivíduos durante esse momento de confinamento. Existe uma preocupação coletiva em contrair o vírus e assumir os seus desdobramentos a partir disso. Isso é uma realidade para todos nós, mesmo que possamos estar desempenhando diferentes papéis em nossas residências nesse momento e ao mesmo tempo: pais, mães, filhos, professores, estudantes, gestores, entre outros. Vivemos o nosso dia a dia com essa preocupação. Por isso, a socialização e partilha, mediadas pela tecnologia, se tornaram tão importantes, pois fomos cerceados da convivência de nosso amigos, parentes, colegas e etc..
Em função disso, retomando a fala da estudante, desconfia-se do porquê esta avalia que não está aprendendo. Talvez, o contexto atual seja mais difícil para alguns que para outros, pois de forma distinta, emocionalmente, nossos pensamentos são atravessados pela angústia, pela preocupação e, ainda, pela desesperança. Mas é necessário crermos que, ao final, descobriremos novas formas de constituir relações empáticas e solidárias.
Todas essas assertivas remetem a pensar também acerca dos encaminhamentos metodológicos a serem utilizados. Ou seja: de que forma podemos ampliar projetos colaborativos entre os indivíduos, sejam eles crianças ou adultos, e como constituí-los?
                                   André Luis de Castro Freitas - Professor do C3 e da SEaD/ FURG 
Joice Rejane Pardo Maurell - Pedagoga da PRAE e SEaD/ FURG

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