A BUSCA POR SER PROFESSOR INTERDISCIPLINAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
Como ser interdisciplinar em tempos de pandemia? Começo esta
escrita com esse questionamento. E por que faço essa escrita? Em algum momento,
em uma das reuniões dentre tantas que vivenciamos neste período de isolamento
social, foi dito: Como as pesquisas que realizamos podem contribuir para o
enfrentamento dessa realidade que vivenciamos? De alguma forma, aquela pergunta
me deixou incomodada. Como? Nesse momento, fiquei refletindo: Como a formação
de professores interdisciplinares pode contribuir com essas questões? Temática
da minha tese de doutorado, a qual me debrucei durante 3 anos da vida e
continuo pesquisando.
Por isso, escrevo a partir da metáfora do pessegueiro, que
emerge das minhas reflexões, do processo de autoconhecimento, de pensamento
simbólico. Todo início de manhã, quando me sento na frente do computador para
trabalhar, deparo-me com o pessegueiro e suas mudanças, seus companheiros
viajantes pássaros. Como sabemos, na pesquisa, na prática, no ser
interdisciplinar, deparamo-nos de alguma forma com a representação por meio da
metáfora. Ela faz parte de quem se intitula interdisciplinar, a metáfora
motiva, ela cria, torna-se parte do pesquisador.
Ser professor interdisciplinar em tempos de pandemia é ser o
pessegueiro, que nessa época se mostra um pouco triste no meu quintal (do meu
ponto de vista), sem uma beleza externa, mas que todo o dia está presente e
lutando para que suas folhas não o tenham abandonado. Em alguns momentos,
perder as folhas e deixá-las seguir o ciclo da vida é um desapego necessário, visto que é o momento de abrir a florada para
outros viajantes abelhas se tornarem parceiros. Quem seriam essas folhas? As
folhas são sinal de vida, quando verdes, tornam o pessegueiro uma linda árvore
frutífera; quando há muitas folhas, elas contribuem para o aumento da
clorofila, entre outros pontos biológicos. Quem sabe estamos nesse momento de respeitar e entender que as folhas
caem, tornando-se não tão dependentes do pessegueiro, e usamos a energia que
nos resta para reinventar esse processo. Ser professor interdisciplinar é se
reinventar e ser criativo, ser humilde.
Ao buscar leituras sobre
interdisciplinaridade e suas relações com a pandemia, me deparei com alguns
textos relacionados a esse tema enquanto prática, focados somente no fazer.
Mesmo vivenciando e tolerando o atual contexto político brasileiro, não
compreendo, muitas vezes, esse cenário de retrocesso, mas não há como fugir:
Sou brasileira! E nesse “sou brasileira”, carrego uma concepção de
interdisciplinaridade atitudinal, em que a busca por ser interdisciplinar vai
além da mera integração entre conceitos ou diálogo com pessoas de diferentes
áreas. A busca por essa interdisciplinaridade é uma busca pelo
autoconhecimento, uma busca de si mesmo, do próprio eu, de espera, de se escutar e de se entender dentro desse contexto. Uma
interdisciplinaridade afetiva, em que a dimensão humana é mais importante do
que a dimensão prática (não que essa seja menos importante).
E o pessegueiro? O pessegueiro é o exemplo de
autoconhecimento, de coerência!
Autoconhecimento para entender que momento deve manter suas folhas, liberá-las,
criar frutos, deixar os frutos caírem, receber convidados passageiros,
manter-se em pé, entender-se como algo/alguém no ambiente que o cerca,
compreender o ciclo de vida, envelhecer, reinventar-se!
Esse texto metafórico, cheio de
pensamentos, de ideias, de emergências, está permeado dos princípios, os quais
a professora pesquisadora Ivani Fazenda explicita nas suas escritas, de quem
busca a interdisciplinaridade enquanto forma de ser, agir e pensar, de ser um
professor interdisciplinar: coerência, espera, desapego, humildade e respeito.
Acrescentaria mais um princípio a essa vivência de afastamento social: reinvenção! Sejamos, em alguns
momentos, o pessegueiro!
Gratidão Rafaele pelo texto lindo e inspirador. Bjs!
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